terça-feira, 29 de outubro de 2013

O QUE É... DECISÃO

O QUE É... DECISÃO

N
o mundo corporativo, há algo vagamente conhecido como “processo decisório”, que são aqueles insondáveis critérios adotados pela alta direção da empresa para chegar a decisões que o funcionário não consegue entender. 

Tudo começa com a própria origem da palavra “decisão”, que se formou a partir do verbo latino caedere (cortar).  

Dependendo do prefixo que se utiliza, a palavra assume um significado diferente: “incisão” é cortar para dentro, “rescisão” é cortar de novo, “concisão” é o que já foi cortado, e assim por diante. E discaedere, de onde veio “decisão”, significa “cortar fora”. 

Decidir é, portanto, extirpar de uma situação tudo o que está atrapalhando e ficar só com o que interessa. E, por falar em cortar, todo mundo já deve ter ouvido a célebre história do não menos célebre rei Salomão, mas permitam-me recontá-la, transportando os acontecimentos para uma empresa moderna. 

Então, está um dia o rei Salomão em seu palácio, quando duas mulheres são introduzidas na sala do trono. Aos berros e puxões de cabelo, as duas disputam a maternidade de uma criança recém-nascida. 

Ambas possuem argumentos sólidos: testemunhos da gravidez recente, depoimentos das parteiras, certidões de nascimento. Mas, obviamente, uma das duas está mentindo: havia perdido o seu bebê e, para compensar a dor, surrupiara o filho da outra. 

Como os testes de DNA só seriam inventados dali a milênios, nenhuma das autoridades imperiais consultadas pelas litigantes havia conseguido dar uma solução satisfatória ao impasse. Então Salomão, em sua sabedoria, chama um guarda, manda-o cortar a criança ao meio e dar metade para cada uma das reclamantes. 

Diante da catástrofe iminente, a verdadeira mãe suplica: “Não! Se for assim, ó meu Senhor, dê a criança inteira e viva à outra!”, enquanto a falsa mãe faz aquela cara de “tudo bem, corta aí”. Pronto. Salomão manda entregar o bebê à mãe em pânico, e a história se encerra com essa salomônica demonstração de conhecimento da natureza humana.

Mas isso aconteceu antigamente. Se fosse hoje, com certeza as duas mulheres optariam pela primeira alternativa (porque ambas teriam feito um curso de Tomada de Decisões). Aí é que entram os processos decisórios dos salomões corporativos. 

Um gerente salomão perguntaria à mãe putativa A: “Se eu lhe der esse menino, ó mulher, o que dele esperas no futuro?” E ela diria: “Quero que ele cresça com liberdade, que aprenda a  cantar com os pássaros e que possa viver 100 anos de felicidade”. 

E a mesma pergunta seria feita à mãe putativa B, que de pronto responderia: “Que o menino cresça forte e obediente e que possa um dia, por Vossa glória e pela glória de Vosso reino, morrer no campo de batalha”. Então, sem piscar, o gerente salomão ordenaria que o bebê fosse entregue à mãe putativa B. Por quê? 

Porque na salomônica lógica das empresas, a decisão dificilmente favorece o funcionário que tem o argumento mais racional, mais sensato, mais justo ou mais humano. A balança sempre pende para os putativos que trazem mais benefício para o sistema.

GEHRINGER, Max. Revista Você S/A, jan. 2002


Nota: (putativa. Adjetivo.  Que aparenta ser verdadeiro, legal e certo (Dicionário- Aurélio B. de Holanda F)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Prá quem gosta de Propaganda e Criação

W/Brasil inaugura era de criativos no comando de agências

Washington Olivetto não se tornou a principal referência da propaganda brasileira em todo o mundo apenas pelo reconhecimento de sua qualidade criativa, chancelada por dezenas de Leões em Cannes, inclusive o primeiro de ouro que o País conquistou, em 1974.
 
 Após 13 anos de memorável história na DPZ, tendo ingressado após Roberto Duailibi aprovar sua pasta, em 1973, Olivetto tomou uma decisão - de ter seu próprio negócio - que criaria um novo parâmetro para o mercado.
 
Após meses de análise da proposta de Paul Gredinger (presidente da suíça GGK e maior acionista individual de agências no mundo na ocasião) para se tornar sócio dele no Brasil, Washington aceitou, depois do aval de seu sócio, Javier Lussá.
 
Os termos da proposta eram irrecusáveis. Washington ganharia um pró-labore equivalente ao que ganhava na DPZ e seria ainda dono de 50% da agência.
 
O anúncio de sua saída lhe rendeu o fim da amizade com os sócios da DPZ, mas sua decisão marcou o início de uma era em que grandes criativos passaram a comandar as agências.
 
Foi um grande negócio para a GGK, mas, três anos e 168 prêmios internacionais depois, os sócios Washington Olivetto, Gabriel Zellmeister e Javier Lussá chegaram ao consenso de que não precisavam mais da GGK, em especial por esta há muito tempo não aportar contas novas e nenhuma das originais estar mais na agência.
 
A proposta aos suíços, feita logo após o Festival de Cannes de 1989, era pagar metade dos lucros futuros de dois anos e encerrar a sociedade sem atritos.
Gredinger aceitou.
 
Nascia assim a W/Brasil, a primeira agência brasileira liderada por um astro da criação nacional.

 

DPZ se destaca como celeiro de grandes talentos


A DPZ nasceu em 1º de julho de 1968, apenas com a conta de um revendedor Ford.
 
O trio de fundadores - formado por Roberto Duailibi, que vinha da Standard, José Zaragoza e Francesc Petit, vindos do estúdio Metro 3 - desafiou a tendência mundial que ainda prevalecia e que privilegiava as multinacionais quase que com exclusividade.
 
A agência apresentava-se como uma concorrente à altura e gerou um processo de renovação empresarial no setor. A agência inovou com dois departamentos de criação, um comandado por Francesc Petit e outro chefi ado por José Zaragoza, e tornou-se o maior celeiro de talentos da criação nacional.
 
Por lá passou uma geração inteira dos principais profi ssionais de criação do País desde a década de 70: Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Neil Ferreira, Gabriel Zellmeister, Marcello Serpa, Tomás Lorente, Ruy Lindenberg, Murilo Felisberto (que chegou a dirigir um terceiro departamento de criação, nos anos 90), Ricardo Freire, Roberto Cippola, Helga Mietke, Átila Francucci e Ricardo Chester Amaral.
 
Em 2007, a DPZ viu a necessidade de se adequar às necessidades de maior controle de custos diante das margens de rentabilidade decrescentes, anunciando a unificação do departamento de criação.
 
O processo foi acompanhado pela demissão de seis pessoas, dentre elas os diretores de criação Carlos Rocca e Carlos Silvério.
 
Fez parte ainda deste pacote a venda do controle do escritório argentino para a Dentsu, de quem já é sócia na operação Dentsu Brasil.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Pra quem gosta de Propaganda (3)


Guerra das cervejas turbina propaganda desde os anos 90


 Brahma e Antarctica foram, até o fim dos anos 80, sinônimos de cerveja.
 
Mesmo com o lançamento da Kaiser, em abril de 1982, e a criação pela DPZ do "Baixinho da Kaiser", Brahma e Antarctica se alternavam, por poucos pontos, na liderança do mercado.
 
A concorrência não era muito acirrada. No ranking de 1989 da publicação Agências & Anunciantes, de Meio & Mensagem, a Brahma aparece na 51ª posição entre os maiores investidores em mídia no País. Antarctica ocupava a 97ª colocação e Kaiser, a 99ª.
 
No início dos anos 90, com a criação pela Fischer América do slogan "A número 1", para a Brahma, o mercado começou a assistir à chamada "Guerra das cervejas".
 
A Brahma alcançou a liderança e a manteve ao longo de quase oito anos, quando perdeu espaço para o "Desce redondo", da Skol, atendida pela F/Nazca.
 
A produção dos comerciais passou a explorar mais a figura da mulher e recrutar celebridades, como João Gilberto, para a Brahma.
 
A Antarctica, na Copa do Mundo de 1994, contratou Ray Charles e Daniela Mercury para interpretarem o jingle da marca e em 1997 lançou Bavaria, que utilizou cantores sertanejos na comunicação criada pela DM9.
 
A batalha mercadológica ajudou a turbinar a propaganda e o setor passou a investir em grandes eventos, como os ligados ao carnaval e ao futebol.
 
O consumo nacional da bebida subiu de 5,28 bilhões de litros em 1989 para 9,02 bilhões em 2005. Novas marcas, como Nova Schin, Cintra e Sol, passaram a disputar mercado com a gigante Ambev, resultado da fusão em 1999 entre Brahma e Antarctica.
 
Hoje o setor, ainda, se vê diante da ameaça de sofrer restrições em sua comunicação e poderá ser impedido de patrocinar a transmissão de eventos esportivos.

 

Cenp profissionaliza as negociações da atividade publicitária

No dia 16 de dezembro de 1998, representantes de agências, anunciantes e veículos de comunicação colocaram em vigor as Normas-Padrão da Atividade Publicitária, um regulamento que reúne as diretrizes para o estabelecimento de uma relação ética entre todas as frentes envolvidas na atividade publicitária do País.
 
Mais do que um documento que defi ne os limites dos profissionais, o conjunto de normas nasceu com o propósito de reforçar a capacidade de auto-regulamentação do setor.
 
Para aplicar essas regras e zelar pelo seu cumprimento por parte dos envolvidos no meio publicitário, foi criado o Conselho Executivo das Normas-Padrão, o Cenp.
 
Tendo as principais associações do âmbito da publicidade como mantenedoras - ABA, Abap, Abert, ANJ, Aner, Central de Outdoor, Fenapro e ABTA, o Conselho, por meio da outorga dos seus Certifi cados de Qualificação, é o responsável pelo cadastramento de agências, anunciantes e veículos que, segundo a avaliação de seus integrantes, estão aptos ao pleno e livre exercício das ações comerciais e publicitárias.
 
O Cenp promoveu uma profunda revisão do texto original de suas normas de propaganda, há 10 anos, a pedido da ABA, que atentou para a necessidade de adequação das regras ao cenário do mercado atual - bem diferente daquele existente em sua elaboração.
 
A inclusão de regras relativas às novas mídias, como internet e telefones móveis, é um ponto defendido pela mantenedora para que seja moldado de acordo com a realidade das negociações neste século 21.