A
teoria hipodérmica - A teoria da Bala
Adaptado por
Sérgio Duarte do livro
Teorias da Comunicação de Mauro Wolf
Historicamente, a
teoria hipodérmica coincide com o período das duas guerras mundiais e com
difusão em larga das comunicações de massa; e representou a primeira reação que
este último fenômeno provocou entre estudiosos de proveniência diversa.
Encerrada entre estes
dois elementos, a teoria hipodérmica é uma abordagem global aos Mass Media, indiferente à diversidade
existente entre os vários meios e que responde à interrogação: que efeito tem os Mass Media numa sociedade de massa?
A principal componente
da teoria hipodérmica é, de fato, a presença explícita de uma «teoria» da
sociedade de massa, enquanto, no aspecto «comunicativo», opera
complementarmente uma teoria psicológica da ação.
Além disso, pode
descrever-se o modelo hipodérmico como sendo uma teoria da propaganda e sobre a
propaganda; com efeito, no que diz respeito ao universo dos meios de
comunicação.
A
sociedade de massa
A presença do conceito
de sociedade de massa é fundamental para a compreensão da teoria hipodérmica
que, por vezes, se reduz a uma ilustração de algumas das características dessa
sociedade.
Como foi afirmado, o conceito de sociedade de massa não só tem origens remotas na
história do pensamento político como presença componente e corrente bastante
diversa; trata-se, em suma, de um «termo guarda-chuva» de que, a cada passo,
seria necessário precisar a utilização e a acepção.
Dado não se poder
reconstituir pormenorizadamente a sua gênese e a sua evolução, é suficiente que
se especifiquem algumas das suas características principais, sobretudo as mais
importantes para a definição da teoria hipodérmica.
São muitas as
“variantes” detectáveis no conceito de sociedade de massa.
Para o pensamento
político oitocentista de aspecto conservador, a sociedade de massa é, sobretudo
a consequência da industrialização progressiva, da revolução dos transportes e
do comércio, da difusão de valores abstratos de igualdade e de liberdade.
Estes processos sociais
provocam a perda da exclusividade por parte das elites que se veem expostas às
massas.
O enfraquecimento dos
laços tradicionais (de família, comunidade, associações de ofícios, religião,
etc.) contribui, por seu lado, para afrouxar o tecido conectivo da sociedade e
para preparar as condições que conduzem ao isolamento e à alienação das massas.
Uma corrente diversa é
representada pela reflexão sobre a «qualidade» do homem-massa resultante da
desintegração da elite. Ortega y Gasset (1930) descreve o homem-massa como
sendo a antítese da figura do humanista culto.
Embora a ascensão das
massas indique que a vida média se processa a um nível superior aos precedentes,
as massas revelam, todavia, “um estado de espírito absurdo: preocupam se apenas
com o seu bem-estar e, ao mesmo tempo, não se sentem solidárias com as causas
desse bem estar” (ORTEGA Y GASSET, 1930, p.51), demonstrando uma ingratidão total
para com aquilo que lhes facilita a existência.
Uma linha diferente de
análise diz respeito à dinâmica que se instaura entre o indivíduo e a massa e o
nível de homogeneidade em redor do qual se congrega a própria massa. Simmel afirma que “a
massa é uma formação nova que não se baseia na personalidade os seus membros,
mas apenas naquelas partes que põem um membro em comum com os outros todos e
que equivalem às formas mais primitivas e ínfimas da evolução orgânica (...)”.
Daí que sejam banidos
deste nível todos os comportamentos que pressupõem a afinidade e a
reciprocidade de muitas opiniões diferentes.
As ações da massa apontam
diretamente para o objetivo e procuram atingi-lo pelo caminho mais curto, o que
faz com que exista sempre uma única ideia dominante: a mais simples possível.
Para além das oposições
filosóficas, ideológicas e políticas existentes na análise da sociedade de
massa - interpretada quer como a época da dissolução da elite e das formas
sociais comunitárias, quer como o início de uma ordem social mais participada e
partilhada, quer, finalmente, como uma estrutura social gerada pela evolução da
sociedade capitalista - há certos traços comuns que caracterizam a estrutura da
massa e o seu comportamento.
A massa é constituída
por um conjunto homogêneo de indivíduos que, enquanto seus membros, são
essencialmente igual, indiferenciáveis, mesmo que provenham de ambientes
diferentes, heterogêneos, e de todos os grupos sociais.
Além disso, a massa é
composta por pessoas que não se conhecem, que estão separadas umas das outras
no espaço e que têm poucas ou nenhumas possibilidades de exercer uma ação ou
uma influência recíproca.
Por fim, a massa não
possui tradições, regras de comportamento ou estrutura organizativa (BLUMER,
1936 e 1946).
Esta definição de massa
como um novo tipo de organização social é muito importante por vários motivos:
em primeiro lugar, porque põe em destaque e reforça o elemento fundamental da
teoria hipodérmica, ou seja, o fato de os indivíduos estarem isolados, serem anônimos,
estarem separados, atomizados.
Portanto, o isolamento
físico e «normativo» do indivíduo na massa é o fator que explica em grande
parte o realce que a teoria hipodérmica atribui às capacidades manipuladoras
dos primeiros meios de comunicação.
Os exemplos históricos
dos fenômenos de propaganda de massas durante o fascismo e nos períodos de
guerra forneceram provas a tais modelos cognitivos.
Um segundo motivo
importante nesta caracterização da massa é a sua continuidade como parte
importante da tradição europeia do pensamento filosófico político: a massa é um
agregado que nasce e vive para além dos laços comunitários e contra esses
mesmos laços, que resulta da desintegração das culturas locais e no qual as
funções comunicativas são necessariamente impessoais e anônimas. A fragilidade
de uma audiência indefesa e passiva provém precisamente dessa dissolução e
dessa fragmentação.
Logo, segundo a teoria
hipodérmica, “cada indivíduo é um átomo isolado que reage isoladamente às
ordens e às sugestões dos meios de comunicação de massa monopolizados” (WRIGHT
MILLS, 1963, p. 203).
Se as mensagens da
propaganda conseguem alcançar os indivíduos que constituem a massa, a persuasão
é facilmente “inoculada”. Isto é, se o “alvo” é atingido, a propaganda obtém o
êxito que antecipadamente se estabeleceu (e de fato, a teoria hipodérmica é
também denominada Bullet Theory) (SCHRAMM,
1971).
Nota: O Modelo da Teoria Hipodérmica- Bullet Theory A Teoria Bala possui uma estrutura bem
simples,
representada pela formula estímulo resposta: E >>> R.
Onde E significa estímulo e R resposta.
A forma de dualidade mostra que o E é um elemento crucial que compreende todo o
indivíduo,
de onde se espera que uma resposta seja produzida inevitavelmente. Ou seja, o indivíduo pode ser controlado, manipulado e induzido a agir.
Fonte: Wolf, Mauro.
Teorie delle Comunicazioni di Massa. Trad.
Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença, Lda. 5. Ed. , Lisboa,
Setembro, 1999.