domingo, 31 de março de 2013

Como conquistar os jovens de classe média das favelas


Como conquistar os jovens de classe média das favelas

Novas gerações apreciam e compram marcas conhecidas, mas não veem identificação na forma como se comunicam. Valorizar a cultura local é uma das formas de criar um diálogo. Leia e reflita sobre as tendências apresentadas e tire suas conclusões.


Os jovens de classe média das favelas compram, interagem e julgam as marcas da mesma forma que outros de sua geração, mas têm características particulares e necessidades diferenciadas.

Algumas empresas já perceberam isso, mas muitas ainda não sabem qual a maneira e o canal certo para dialogar com eles.

Oferecer eventos culturais por meio de patrocínios, valorizar a cultura local, criar projetos de melhoria de condição de vida e programas de capacitação, além de ter uma comunicação que explore conteúdo familiar, são algumas formas de construir uma relação próxima e duradoura com esse público.

As transformações no cenário econômico do país significaram transformações nas comunidades, como a ascensão da classe média, que hoje representa 65% da população desses locais.

Os moradores estão mais conectados e consumindo mais.

Nesse cenário, os jovens são agentes transformadores por serem maioria, influenciadores no consumo familiar e determinados a melhorar de vida e a condição dos locais onde vivem.

Essa foi a conclusão da pesquisa “Geração C – Especial: Comunidades Cariocas”, desenvolvida pelo Instituto Data Popular em parceria com a Central Única das Favelas para a BEAT98, e do estudo “Favelas brasileiras. Um mercado de R$ 56 bilhões”, do DataFavela.

“Na análise para a BEAT98 tentamos traçar alguns passos de como as empresas podem se comunicar com a juventude das comunidades cariocas e fazer parte da vida dela sem impor uma cultura do asfalto”, explica Renato Meirelles, Sócio e Diretor do Data Popular, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Veja algumas atitudes importantes abaixo:

Apresente-se e seja autêntico
A experiência de consumo é recente entre os jovens das comunidades cariocas e se intensificou com muita rapidez nos últimos anos.

Se há 10 anos, três em cada 10 moradores das favelas tinham celulares, hoje esse número subiu para nove. Um crescimento semelhante ocorreu com a aquisição de outros produtos, como máquinas de lavar e microcomputadores.

Os jovens são uma porta de entrada para o consumo familiar porque exercem influência sobre os pais na aquisição de, por exemplo, TV´s por assinatura, e na escolha de modelos, tipos e marcas de eletrônicos e alimentos.

Além disso, por estarem entrando na idade economicamente ativa, esses consumidores representam uma grande oportunidade para os próximos anos.

Todos esses fatores mostram a importância de as empresas se tornarem conhecidas e familiares para eles. “Se as marcas conseguirem construir uma relação de longo prazo com os jovens, terão parceiros durante as próximas décadas”, destaca Meirelles.

A forma com que as marcas se apresentam às novas gerações tem grande relevância na definição de como elas serão vistas e o diálogo e as primeiras impressões são essenciais no processo.

Comunicação morna, falta de personalidade, opinião fraca e atitudes que não condizem com o discurso são características que criam obstáculos na relação.

Os novos consumidores querem ter, usar e usufruir de produtos e serviços que agregam algo a sua imagem e ao seu estilo de vida e não pensam duas vezes antes de rejeitarem e criticarem aquelas que não vão a favor disso.

Aproxime-se e construa
A aproximação é o passo seguinte nesse relacionamento.

As comunidades funcionam na lógica da reciprocidade e os jovens colaboram e interagem com as marcas que os ajudam a melhorar de vida, aprender e se divertir. “Para isso, as empresas precisam deixar algo para eles que vá além do produto.

Acredito fortemente em investimentos em entretenimento e diversão.

Eventos musicais e esportivos e outras iniciativas culturais são formas de contribuir de forma diferenciada”, opina o Diretor do Data Popular.

As novas gerações das favelas têm uma relação íntima, emocional e duradora com o lugar onde cresceram: 85% gostam de onde moram, 80% têm orgulho de viver na comunidade e 70% continuariam residindo nesses locais mesmo se suas rendas dobrassem.

Os valores mostram que o ambiente onde essas pessoas moram é cada vez menos motivo de vergonha.

Cerca de 90% das comunidades têm água canalizada e acesso à rede elétrica, o que fortaleceu o sentimento de dignidade entre eles.

Entender esses sentimentos e investir na construção de iniciativas que melhoram ainda mais esses locais é uma forma de participar da vida e das escolhas dos novos consumidores. “Mas não pode haver o pensamento de que o asfalto está fazendo um favor em ajudar as pobres e coitadas comunidades.

Esse posicionamento é errado.

A questão é como ser parceiro na melhora de qualidade de vida das pessoas. Tem muito mais relação com colaboração”, defende Meirelles.

Faça parte e emocione
Agir dentro das favelas não é, no entanto, a única forma de atingir os jovens dessa classe média.

Estar em outros espaços de sociabilidade contribui para manter um fluxo contínuo de troca de informações.

Cerca de 90% da juventude carioca, por exemplo, acessam a internet e 70% navegam todos os dias.

As redes sociais representam a principal atividade online, seguida do uso do MSN, acesso a portais de notícias e a músicas. Mas os jovens são plurais e outros pontos de contato podem ser explorados, como escolas e os lugares onde trabalham.

A pesquisa feita para a BEAT98 indicou que qualidade e nome da empresa são os principais atributos avaliados por eles na hora de comprar um produto, mais do que preço, e que as marcas trazem um duplo sentimento para os consumidores desses locais.

Elas funcionam como um selo de qualidade, o que implica na sensação de benefício, e como uma forma de sofrer menos preconceito em outros ambientes.

Muitos ainda se sentem discriminados por morarem em favelas e os produtos de empresas de prestígio, especialmente roupas e eletroeletrônicos, diminuem a incidência dessa percepção.

A constatação mostra a relevância que as marcas têm para os jovens, mas, mesmo com a grande oportunidade, muitas não conseguem criar um diálogo consistente com eles.

Isso ocorre especialmente por não usarem conteúdos que mostram identificação com seus estilos de vida.

Com isso, encontram dificuldade em emocionar e se relacionar melhor.  “Os jovens gostam das marcas, mas não acham que elas falam a língua deles”, avalia Renato Meirelles.


Valorize e qualifique
Algumas formas de ter uma comunicação mais próxima é dar exemplos de pessoas de sucesso que têm a mesma origem que eles.

Outra ideia é dialogar com as músicas que escutam. “A memória auditiva é uma das formas de criar um laço emocional com o consumidor e isso tem que ser mais estudado pelas empresas”, afirma o Diretor do Data Popular.

Todos esses tipos de iniciativas e conteúdos valorizam a cultura das favelas em um momento em que a juventude está afirmando sua identidade, história e conquistas.

Não à toa, 93% dos jovens cariocas desses locais acreditam que a vida vai melhorar.

Entre as comunidades pacificadas, por exemplo, há um grande orgulho por existir agora um maior acesso a serviços de qualidades e marcas conhecidas.

Essa fase de otimismo vem acompanhada da determinação em conseguir melhores condições de vida.

A pesquisa sobre a geração C nas comunidades do Rio de Janeiro apontou que 39% das pessoas têm o ensino superior ou como um sonho distante ou como uma realidade mais concreta.

Muitas abandonam os estudos por falta de condições financeiras ou gravidez precoce e os projetos sociais possibilitam a inserção ou reinserção no mercado de trabalho.

Por isso, as empresas que investem na educação e no desenvolvimento por meio de, por exemplo, programas de capacitação, são vistas com bons olhos.

Ações como estas podem ser significativas para os consumidores e agregam valor.


Fonte: Ana Paula Hinz, do Mundo do Marketing (http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/pesquisa/27069/como-conquistar-os-jovens-de-classe-media-das-favelas.html)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Diga adeus aos Prêmios de Criatividade !


Diga adeus aos Prêmios de Criatividade !

Say Goodbye to Creativity Awards
Por Werner Reinartz e Peter Saffert com tradução livre de Sérgio Duarte

Muito se discuti sobre a intenção de ganhar prêmios na propaganda e se esquecer de ganhar dividendos para os anunciantes. A agência   de propaganda e em especial, o criativo, conquistam uma boa imagem para si. Mas, e o cliente que paga a conta e em alguns casos não tem retorno sobre o investimento?
               
No Outono de 2012, pouco antes da publicação do índice de criatividade da Revista alemã Kreativ Index , ser publicado, duas agências de publicidade líderes na Alemanha, Jung von Matt e Scholz & Friends, anunciaram que não iriam participar em quaisquer competições de premiação criativa em publicidade em 2013.

O relato não foi de empresas novatas no mercado publicitário alemão. A agência Jung von Matt detinha o primeiro lugar no ranking de premiação por seis anos e a  Scholz & Friends estava em quarto lugar no Kreativ Index.

Detalhe: a criatividade sempre importou muito para as pessoas no mundo da propaganda e publicidade.

Se uma agência de propaganda tivesse que fazer uma escolha entre o valor agregado aos seus negócios, as chances seriam a de que uma taxa alta de criatividade promoveria a capacidade de apresentar campanhas publicitárias originais, inovadoras e criativas como principal diferencial.

A lógica subjacente é que campanhas criativas entregam resultados de positivos para o cliente.

Você pode entender, então, por que a maioria das agências de propaganda se candidata aos festivais de criatividade publicitários com seriedade.

Pois ganhar um festival (ou prêmios) promove o potencial criativo de um publicitário e sua empresa; e isto é um ativo tangível para os seus clientes atuais e futuros (prospects).

Quando as agências contemplam novas contas publicitárias, recém-conquistadas, elas tem como resposta habitual que a conquista do prospect deveu-se com base no ranking das premiações em criatividade.

A promoção nacional e internacional do profissional criativo de propaganda é determinada, em grande medida pelos resultados obtidos em concursos de criatividade publicitária.
E como o pessoal do departamento de criação de uma agência adora competir com os seus pares...

E além disso, os chefes de agências de propaganda observam os concursos de criação como uma ferramenta chave para a motivação.
Isto é, como os Jogos Olímpicos - se eles não existissem, ninguém jamais teria corrido 100m em menos de dez segundos.

Então, o que inspirou a decisão da Jung von Matt e Scholz & Friends de se retirar de competições criativas em Propaganda e Publicidade?

Pelo menos duas razões vêm à mente.

Primeira, há um grande e crescente número de envios de candidaturas das chamadas “ideais-ouro” ou o que se pode chamar de: “criações zumbis”. Onde as campanhas têm explícito objetivo de ganhar um prêmio de criatividade. E o não propósito de ser exibidas em horário nobre da TV.

Logo: o objetivo é somente empurrar para acima a agência nos rankings criativos, em vez de vender o produto do cliente.

E quando isto acontece, os clientes são, basicamente, lesados.

Há um custo.
Em tempos economicamente difíceis, muitos questionam a ideia de gastar dinheiro em concursos de premiação. Para uma única agência de propaganda, por exemplo, os custos com taxas de inscrição em certames podem facilmente atingir € 1m (nota: mil e trezentos dólares) em cada peça.

Mas a grande pergunta é: - ganhar um prêmio criativo realmente é uma boa medida do potencial criativo de uma agência?

A nossa visão é que há outras medidas funcionais para se avaliar o sucesso em publicidade.

Uma medida que temos aplicado é originalmente baseada nos famosos testes Torrance de Pensamento Criativo (TTCT) (nota: leia mais em www.tcportugal.org/Pages/TorranceCenter.html).

Com o TTCT, nós comparamos 437 campanhas publicitárias a partir de 90 marcas líderes em 10 categorias diferentes de grande consumo na Alemanha.

Com o uso de uma escala de criatividade publicitária desenvolvida a partir de pesquisadores de comunicação da Universidade de Indiana, em 2007, foram avaliados e graduados os níveis de cada criatividade em nossas campanhas publicitárias.

Especificamente, medimos cinco dimensões da criatividade publicitária:

(1) originalidade (O anúncio foi original? Raro; surpreendente; único);
(2) flexibilidade (há relação (link) do anúncio do produto para diferentes ideias, conceitos ou assuntos?);
(3) elaboração (se o anúncio contém detalhes confusos ou numerosos?),
(4) síntese (O anúncio combina naturalmente objetos não relacionados ou idéias?) e
(5) valor artístico (traz o anúncio excelência visual, verbal ou grafica?).

Para controlar os gastos de cada marca de nossos clientes, foi utilizado um modelo de resposta estatístico de vendas interligando: a criatividade da campanha publicitária, os gastos com o anúncio, compra do espaço publicitário, os custos com preços competitivos (de mídia) para avaliar o desempenho de vendas das nossas marcas divulgadas ao longo do tempo.

Descobrimos que a criatividade fez uma grande diferença.

Normalmente, um aumento de 1% no investimento publicitário se traduz em um aumento de 0,2% nas compras, mas para os anúncios mais criativos (pela nossa medida) verificou-se que a capacidade de resposta de compra se aproximou de 0,3%.

A grande lição de tudo isto é que a eficácia de criatividade pode ser medida com bastante precisão. Uma vez que no mundo dos negócios se percebe isso, os pesquisadores encontrarão formas de aprimorar as formas de métricas e modelos que poderão ser usadas e descobriremos o que haverá de melhor sobre os tipos de campanhas criativas.

Sendo assim, nós (da Jung von Matt e Scholz & Friends) só poderemos entregar todas as estatuetas e placas ao arrumar a casa, primeiro.

domingo, 17 de março de 2013

No Marketing as pessoas não são números

No Marketing as pessoas não são números (e a Mídia Espalhada)
In Marketing, People Are Not Numbers

Por Sam Ford com tradução livre de Sérgio Duarte


Novos conceitos e críticas sobre o momento de uma nova mídia espalhada (Spreadable Midia) são alvo de crítica e reflexão no novo livro de Jenkins. Leia e reflita.

Para os profissionais de marketing não havia muito a procurar em plena era da comunicação. Era fácil fingir que as coisas eram simples, mesmo quando eles não eram... já que os números em conjuntos e dados demográficos em pesquisas eram "o bastante suficiente" para o entendimento do perfil dos clientes das empresas (o target).

Mas, hoje em dia, o conteúdo de mídia é controlado ora pelo target, ora pelos distribuidores tradicionais de mídia. 

Ora, nós distribuímos e dividimos artigos, vídeos e conteúdos como parte da nossa vida cotidiana para uma parcela significativa da população. Assim, encontramo-nos na idade do que eu e meus colegas chamamos de: Mídia Espalhada (Spreadable Midia)

Manter-se fechado, em relação aos dados de pesquisas, realmente não funciona mais tão bem na atualidade.
Mas, mesmo assim: as lógicas empresarias têm tentado preservar os antigos modelos e se ajustar aos novos fenômenos na mídia, e dentro de padrões ainda de uma gestão caseira de negócios.

A seguir apresento as três maneiras fundamentais, as quais, empresas estão tentando resistir à natureza do atual (e novo) ambiente de mídia espalhada na qual vivemos:

1. Transformando as pessoas em dados.
Como as empresas se tornaram como próprias editoras online, elas usam da lógica da "rigidez" para a manutenção de um modelo baseado em impressões de entender público, definir um bem sucedido número de visitas a um website, os cliques, os gostos, o tempo gasto em uma página do site, e assim por diante: transformando os seus públicos em dados quantitativos que podem ser facilmente tratados e comparados.

(Convertendo os diálogos com os consumidores em dados estatísticos as empresas fazem o monitoramento do que as audiências fazem no dia a dia, em seus cotidianos, fora de uma plataforma da web).

Com o fenômeno da Mídia Espalhada, chamamos isso de "ouvir", porque há uma concentração focada no que está dito na web pelas pessoas.

A grande maioria das empresas colocam pouca ênfase na "escuta", que é um processo ativo focado no contexto do que o público está dizendo.

Todavia, as organizações têm investido com profundidade em coletar boa parte das citações na internet de seus públicos e, logo existem maneiras fáceis de converter as citações (posts) em "sentimento" e "share of voice" (participação dos anúncios na programação de mídia).

Logo, o "Big Data" (nota: Big data se trata de um conceito, no qual o foco é o grande armazenamento de dados e maior velocidade) torna-se a palavra de ordem, o buchicho, o “bizu” predominante em todas as disciplinas de marketing.

Em suma, as organizações correm o risco de prestar menos atenção para entender profundamente todo o contexto das comunidades que estão tentando interagir.

2. Mantendo a distância.
Ao falarmos sobre conteúdo, isto torna-se o ingrediente ativo nos membros da audiência como receptores passivos.

Em estratégias de marketing  do tipo “viral” nota-se um fenômeno científico através do qual o público não tem a opção da escolha (sendo orientado a distribuir um determinado conteúdo na web).
Esta mímica ("meme") adota a linguagem científica da replicação do gene para descrever quando se espalha um material pela World Wide Web.

Em tese, é implícito que você não precisa "conhecer" os membros de uma determinada audiência em si, mas sim apenas monitorar uma pandemia resultante da distribuição de conteúdo.

Alguns profissionais de marketing veem o público ligado às redes sociais, não apenas em dados estatísticos agregados, mas com o impulso de encontrar atalho para a participação real e significativa em comunidades.

Um dos conceitos mais populares em marketing nos dias de hoje é o de ser "o influenciador".
Em um modelo que pressupõe que qualquer comunidade são algumas pessoas que, se ficarem a bordo do trem serão todos levados para um passeio.

Em suma, as empresas não têm o hábito de participar de relacionamentos com a maioria de seus públicos como os pastores, os quais todo mundo segue sem pensar.

3. Fazendo-os chegar até você.
Um mito central, tradicionalmente, governa o marketing, o de que a indústria está apenas focada na arte da persuasão na tentativa de alinhar os clientes com o que a empresa quer que eles façam.

Os profissionais de marketing ainda observam a forma que utilizam na era da comunicação para bombardear mensagens de mão-única, e promover a audiência a comprar o que a empresa está vendendo (de forma figurativa e literal).

A era da “espalhabilidade” (da Mídia Espalhada) oferece uma oportunidade de transformação para o Marketing e a Comunicação na ajuda de alinhar melhor a empresa para atender os desejos e necessidades de diferentes segmentos de clientes.

Muitas vezes, as empresas de serviços de informação e conhecimento fornecem aos clientes produtos e serviços tão importantes em si.
O Marketing e a Comunicação servirão da melhor forma a uma empresa, quando colocam primeiramente a ênfase em servir aos seus públicos.

Sam Ford é diretor de Estratégia Digital da Peppercomm e co-autor, com Henry Jenkins e Joshua Green, do livro: Spreadable Media: Creating Value and Meaning in a Networked Culture.

domingo, 10 de março de 2013

Pare de ouvir os seus consumidores


Pare de ouvir os seus consumidores

Stop Listening to Your Customers
Por Steve Martin com tradução livre de Sérgio Duarte

O que poderá persuadir o consumidor?

Cada segmento de negócio tem o interesse no que pode influenciar e convencer clientes e consumidores.

Uma das estratégias mais comuns para chegar a respostas a esta proposta é simplesmente fazer perguntas diretas aos clientes.

Existem várias maneiras que isto pode ser feito. 

Por exemplo, você pode perguntar aos seus clientes diretamente durante um encontro cara a cara ou; você pode levá-los a responder a um questionário (ou a até mesmo através de um questionário online através da web).

Você pode até mesmo terceirizar esta tarefa a uma agência de pesquisa de mercado que vai realizar pesquisas como também pesquisa de grupos de foco (focus group) para sua marca.

Mas, independentemente de como você vai elaborar as perguntas, é preciso reconhecer que há um problema fundamental a ser questionado: como persuadir os clientes em uma pergunta.

Na maioria das vezes os entrevistados não sabem dar a resposta através de uma estratégia de indução ou persuasão.

Não é que os consumidores não queiram responder as perguntas, visto que elas podem ter muitas opções no momento de uma entrevista. 

Devido a isto, ou seja, devido a existente abundância de opções de respostas, os clientes tem grande probabilidade de proporcionar erros em relação a algo perguntado.

Eis o porquê:

A maioria das decisões, que tomamos em nossas vidas está sobrecarregada de informações feitas fora da nossa consciência, influenciadas mais pelos contextos do que por nossas cognições (nota: por cognição entendesse como o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem nas nossas cabeças...).

Como resultado, ao se pedir a alguém para identificar o que vai influenciar o seu futuro com tipo de perguntas como: "me diga como você vai se comportar no futuro, quando você não está pensando sobre o assunto” 
Isto é muito pouco... e tem pouca consistência.

Os cientistas comportamentais Wes Schultz e Robert Cialdini nos fornecem evidências convincentes do porquê de pedir às pessoas para prever o que vai influenciar suas futuras decisões e comportamentos.

Em uma série de estudos, eles perguntaram a várias centenas de proprietários de imóveis na Califórnia, E.U.A., para prever qual das quatro mensagens seria mais bem sucedida em persuadir os moradores em tomar medidas para economizar energia e reduzir o consumo geral.

As quatro sentenças da pesquisa foram:

1) a conservação de energia tem ajudado o meio ambiente;
2) conservação de energia tem protegido as sociedades futuras;
3) conservação de energia tem ajudado a poupar dinheiro;
4) muitos dos seus vizinhos já estão conservando energia.

Com estas sentenças, observou-se que os consumidores tiveram menor influência em seus comportamentos nas respostas.

Os pesquisadores descobriram que a mensagem mais eficaz quando se trata de mudança de comportamento fora rejeitada pela maioria dos entrevistados.

Logo, o desejo das pessoas de manter as aparências é universal e automática.

Por exemplo, estudos têm demonstrado que, em comparação com a abordagem habitual de conhecer sobre as pessoas que não conseguem pagar os seus impostos em dia, por exemplo. É muito comum a um entrevistado informar que na maioria das vezes ter pago os impostos municipais (nota do autor: como o IPTU), sem ter quitado o referido tributo.

Não só somos muito pueris em reconhecer o que vai influenciar o nosso comportamento futuro, como não podemos reconhecer claramente situações futuras.

Também , em um outro clássico estudo realizado em uma lotada estação de metrô da cidade Nova York, depois de contar o percentual de passageiros que dariam uma contribuição no chapéu de um músico, os pesquisadores fizeram uma pequena alteração para o cenário:
- " logo, imediatamente antes de um passageiro (futuro entrevistado) se aproximasse do músico, uma outra (que estava próxima a ele) iria jogar algumas moedas no chapéu do músico”

O resultado? 

Um aumento de oito vezes no total das doações.

Quando entrevistado novamente, os respondentes que fizeram suas doações não atribuíram suas ações para o fato de terem visto alguém dar dinheiro anteriormente, preferindo justificar  com as seguintes frases: 
"Eu gostei da música que ele estava tocando",
"Eu sou uma pessoa generosa", e
"Eu senti pena do cara."

Então, quando se trata de chegar ao coração do que realmente dirige as decisões dos consumidores e seus comportamentos, uma mensagem aparece: - Pare de ouvir seus clientes.

Isoladamente, esta mensagem se limita a chamar a atenção e promove uma alternativa importante que eu acredito: - Comece a observar os consumidores.

A implicação parece clara: Faça menos perguntas sobre o que as pessoas pretendem fazer.

Em vez disso, elabore pequenos testes de campo e estudos de controle  para observar o que realmente fazem os consumidores.

Na maioria dos casos, será muito mais barato do que as abordagens tradicionais de pesquisa de mercado, como as perguntas no início deste texto, e logo as percepções surgirão e poderão fornecer uma real vantagem competitiva para o seu negócio.


STEVE MARTIN
Steve Martin é o autor do artigo 2012 Outubro Harvard Business Review "98% dos leitores HBR ama este artigo" e é co-autor do livro apontado como os maisvendidos do jornal  The New York Times:
Yes! 50 Scientifically Proven Ways to be Persuasive.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Estatísticas na Mídia, na Publicidade e em Estudos.


Estatísticas na Mídia, na Publicidade e em Estudos.

Por Alessandro N.de Mattos

Como mentir sutilmente como gráficos e estatísticas ruins podem
enganar e confundir o leitor.

Estatísticas são usadas extensivamente na mídia, na publicidade e em todos os tipos de estudo.

Não somente porque os números são capazes de informar de uma maneira que as palavras não conseguem, ou sumarizar uma grande massa de dados em uma só afirmação, mas também porque eles podem ser facilmente manipulados e expressos da maneira que for mais conveniente, defendendo qualquer ponto de vista, e, contudo, sem você estar tecnicamente mentindo.

Você não pode provar qualquer fato com estatísticas, mas pode sempre encontrar algo bom ou mal para dizer sobre o assunto.

Estamos atolados por números e estatísticas que nos atingem por todos os lados, afirmando verdades e gritando por uma importância que não questionamos, por acreditar que se eles estão lá, devem estar corretos e devem ser importantes para nós. São tantas estatísticas querendo provar todo tipo de fatos, que muitas até mesmo se contradizem.

Raramente questionamos estes números por considerarmos que se eles estão lá, são corretos e válidos, ou pelo menos alguém já teve o trabalho de verificá-los.

Mas isto muitas vezes não é verdade; não passa de informação falsa ou simplesmente não-informação.

Números que são publicados sem qualquer referência ou verificação podem induzir as pessoas a ações e comportamentos prejudiciais.

Mesmo números que sempre acreditamos serem de suma importância, como os índices das bolsas de valores, como o IBOVESPA, por exemplo,  são só a média de um conjunto de ações de grandes empresas, e não representam o mercado de ações como um todo.

A publicidade é um campo em que sempre temos que questionar o interesse da fonte da informação sobre o que está sendo afirmado.
Mesmo nos casos em que estatísticas e avaliações são creditadas a laboratórios independentes, possivelmente os números certos foram escolhidos com um propósito ou algumas informações foram omitidas para transmitir a mensagem certa.

Não é difícil se deparar com comerciais em:  revistas, jornais, televisão, rádio, Internet ou até em e-mails spams patrocinados por fontes suspeitas, afirmações do tipo (todas elas são apenas exemplos fantasiosos, mas relembram bastante às publicidades que estão por aí):

“Aveia ajuda a baixar as taxas de colesterol em 35% dos casos”, em um estudo de um laboratório “independente” patrocinado por uma indústria de cereais.

“Chocolates ajudam a evitar cáries”, uma descoberta creditada a uma marca de chocolates.

“Tomar café diariamente ajuda a melhorar a memória em 22%”, em pesquisa de uma associação de produtores de café.
“Tomar café diariamente aumenta em 67% as chances de ter gastrite”, em pesquisa de uma associação de produtores de leite.

“Tomar vinho tinto todos os dias aumenta em 5 anos a expectativa de vida”, associação de vinícolas.

“Esse novo espremedor de laranja tira 28% a mais de suco que os outros”, na caixa do eletrodoméstico sendo vendido no supermercado.

“Comer peixe 4 vezes por semana diminui em 58% a chance de um ataque cardíaco”, associação dos comerciantes de peixe.

“Leite de cabra do Himalaia aumenta o nível de potência sexual masculina em 86% depois de 3 meses de uso diário”, importadores de leite de cabra do Himalaia.

Os mais desatentos podem não perceber, mas em todas essas afirmações aparentemente claras, sucintas e diretas ao ponto, estão sérios problemas de manipulação de números e omissão de dados importantes, além é claro, do óbvio interesse do produtor na divulgação dessas informações.

O interesse do produtor geralmente está em exagerar alguma nuance de seus dados estatísticos, para corroborar a sua opinião ou ponto de vista.

É o que mais comumente acontece nos meios noticiosos, que tendem a exagerar os quadros que as estatísticas sugerem para tornar as matérias e reportagens mais interessantes e consequentemente mais vendáveis.

E é difícil acreditar que essas distorções são motivadas por pura ignorância ou preguiça, e que não há uma dose de culpa do produtor, pois quase sempre as situações são exageradas, e quase nunca minimizadas.

Esses produtores de informação esperam que você engula qualquer ponto de vista baseado em números escolhidos a dedo e em estatísticas infundadas.

Adaptado por Sérgio Duarte.
Fonte: http://comomentirsutilmente.blogspot.com.br/2009/05/estatisticas-na-midia-na-publicidade-e.html