Como conquistar os jovens de
classe média das favelas
Novas gerações apreciam e compram marcas conhecidas, mas não
veem identificação na forma como se comunicam. Valorizar a cultura local é uma
das formas de criar um diálogo. Leia e reflita sobre as tendências apresentadas
e tire suas conclusões.
Os jovens de classe média das
favelas compram, interagem e julgam as marcas da mesma forma que outros de sua
geração, mas têm características particulares e necessidades diferenciadas.
Algumas empresas já perceberam
isso, mas muitas ainda não sabem qual a maneira e o canal certo para dialogar
com eles.
Oferecer eventos culturais por
meio de patrocínios, valorizar a cultura local, criar projetos de melhoria de
condição de vida e programas de capacitação, além de ter uma comunicação que
explore conteúdo familiar, são algumas formas de construir uma relação próxima
e duradoura com esse público.
As transformações no cenário
econômico do país significaram transformações nas comunidades, como a ascensão
da classe média, que hoje representa 65% da população desses locais.
Os moradores estão mais conectados
e consumindo mais.
Nesse cenário, os jovens são
agentes transformadores por serem maioria, influenciadores no consumo familiar
e determinados a melhorar de vida e a condição dos locais onde vivem.
Essa foi a conclusão da pesquisa
“Geração C – Especial: Comunidades Cariocas”, desenvolvida pelo Instituto Data
Popular em parceria com a Central Única das Favelas para a BEAT98, e do estudo
“Favelas brasileiras. Um mercado de R$ 56 bilhões”, do DataFavela.
“Na análise para a BEAT98 tentamos
traçar alguns passos de como as empresas podem se comunicar com a juventude das
comunidades cariocas e fazer parte da vida dela sem impor uma cultura do
asfalto”, explica Renato Meirelles, Sócio e Diretor do Data Popular, em
entrevista ao Mundo do Marketing.
Veja algumas atitudes
importantes abaixo:
Apresente-se e seja autêntico
A experiência de consumo é recente
entre os jovens das comunidades cariocas e se intensificou com muita rapidez
nos últimos anos.
Se há 10 anos, três em cada 10
moradores das favelas tinham celulares, hoje esse número subiu para nove. Um
crescimento semelhante ocorreu com a aquisição de outros produtos, como
máquinas de lavar e microcomputadores.
Os jovens são uma porta de entrada
para o consumo familiar porque exercem influência sobre os pais na aquisição
de, por exemplo, TV´s por assinatura, e na escolha de modelos, tipos e marcas
de eletrônicos e alimentos.
Além disso, por estarem entrando
na idade economicamente ativa, esses consumidores representam uma grande
oportunidade para os próximos anos.
Todos esses fatores mostram a
importância de as empresas se tornarem conhecidas e familiares para eles. “Se
as marcas conseguirem construir uma relação de longo prazo com os jovens, terão
parceiros durante as próximas décadas”, destaca Meirelles.
A forma com que as marcas se
apresentam às novas gerações tem grande relevância na definição de como elas
serão vistas e o diálogo e as primeiras impressões são essenciais no processo.
Comunicação morna, falta de
personalidade, opinião fraca e atitudes que não condizem com o discurso são
características que criam obstáculos na relação.
Os novos consumidores querem ter,
usar e usufruir de produtos e serviços que agregam algo a sua imagem e ao seu
estilo de vida e não pensam duas vezes antes de rejeitarem e criticarem aquelas
que não vão a favor disso.
Aproxime-se e construa
A aproximação é o passo seguinte
nesse relacionamento.
As comunidades funcionam na lógica
da reciprocidade e os jovens colaboram e interagem com as marcas que os ajudam
a melhorar de vida, aprender e se divertir. “Para isso, as empresas precisam
deixar algo para eles que vá além do produto.
Acredito fortemente em investimentos
em entretenimento e diversão.
Eventos musicais e esportivos e
outras iniciativas culturais são formas de contribuir de forma diferenciada”,
opina o Diretor do Data Popular.
As novas gerações das favelas têm
uma relação íntima, emocional e duradora com o lugar onde cresceram: 85% gostam
de onde moram, 80% têm orgulho de viver na comunidade e 70% continuariam
residindo nesses locais mesmo se suas rendas dobrassem.
Os valores mostram que o ambiente
onde essas pessoas moram é cada vez menos motivo de vergonha.
Cerca de 90% das comunidades têm
água canalizada e acesso à rede elétrica, o que fortaleceu o sentimento de
dignidade entre eles.
Entender esses sentimentos e
investir na construção de iniciativas que melhoram ainda mais esses locais é
uma forma de participar da vida e das escolhas dos novos consumidores. “Mas não
pode haver o pensamento de que o asfalto está fazendo um favor em ajudar as
pobres e coitadas comunidades.
Esse posicionamento é errado.
A questão é como ser parceiro na
melhora de qualidade de vida das pessoas. Tem muito mais relação com
colaboração”, defende Meirelles.
Faça parte e emocione
Agir dentro das favelas não é, no
entanto, a única forma de atingir os jovens dessa classe média.
Estar em outros espaços de
sociabilidade contribui para manter um fluxo contínuo de troca de informações.
Cerca de 90% da juventude carioca,
por exemplo, acessam a internet e 70% navegam todos os dias.
As redes sociais representam a
principal atividade online, seguida do uso do MSN, acesso a portais de notícias
e a músicas. Mas os jovens são plurais e outros pontos de contato podem ser
explorados, como escolas e os lugares onde trabalham.
A pesquisa feita para a BEAT98
indicou que qualidade e nome da empresa são os principais atributos avaliados
por eles na hora de comprar um produto, mais do que preço, e que as marcas
trazem um duplo sentimento para os consumidores desses locais.
Elas funcionam como um selo de
qualidade, o que implica na sensação de benefício, e como uma forma de sofrer
menos preconceito em outros ambientes.
Muitos ainda se sentem
discriminados por morarem em favelas e os produtos de empresas de prestígio,
especialmente roupas e eletroeletrônicos, diminuem a incidência dessa
percepção.
A constatação mostra a relevância
que as marcas têm para os jovens, mas, mesmo com a grande oportunidade, muitas
não conseguem criar um diálogo consistente com eles.
Isso ocorre especialmente por não
usarem conteúdos que mostram identificação com seus estilos de vida.
Com isso, encontram dificuldade em
emocionar e se relacionar melhor. “Os
jovens gostam das marcas, mas não acham que elas falam a língua deles”, avalia
Renato Meirelles.
Valorize e qualifique
Algumas formas de ter uma
comunicação mais próxima é dar exemplos de pessoas de sucesso que têm a mesma
origem que eles.
Outra ideia é dialogar com as
músicas que escutam. “A memória auditiva é uma das formas de criar um laço
emocional com o consumidor e isso tem que ser mais estudado pelas empresas”, afirma
o Diretor do Data Popular.
Todos esses tipos de iniciativas e
conteúdos valorizam a cultura das favelas em um momento em que a juventude está
afirmando sua identidade, história e conquistas.
Não à toa, 93% dos jovens cariocas
desses locais acreditam que a vida vai melhorar.
Entre as comunidades pacificadas,
por exemplo, há um grande orgulho por existir agora um maior acesso a serviços
de qualidades e marcas conhecidas.
Essa fase de otimismo vem
acompanhada da determinação em conseguir melhores condições de vida.
A pesquisa sobre a geração C nas
comunidades do Rio de Janeiro apontou que 39% das pessoas têm o ensino superior
ou como um sonho distante ou como uma realidade mais concreta.
Muitas abandonam os estudos por
falta de condições financeiras ou gravidez precoce e os projetos sociais
possibilitam a inserção ou reinserção no mercado de trabalho.
Por isso, as empresas que investem
na educação e no desenvolvimento por meio de, por exemplo, programas de
capacitação, são vistas com bons olhos.
Ações como estas podem ser
significativas para os consumidores e agregam valor.
Fonte: Ana Paula Hinz, do Mundo do Marketing (http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/pesquisa/27069/como-conquistar-os-jovens-de-classe-media-das-favelas.html)