quinta-feira, 19 de março de 2015

A teoria hipodérmica - A teoria da Bala

A teoria hipodérmica - A teoria da Bala

Adaptado por Sérgio Duarte do livro
 Teorias da Comunicação de Mauro Wolf

Historicamente, a teoria hipodérmica coincide com o período das duas guerras mundiais e com difusão em larga das comunicações de massa; e representou a primeira reação que este último fenômeno provocou entre estudiosos de proveniência diversa.

Encerrada entre estes dois elementos, a teoria hipodérmica é uma abordagem global aos Mass Media, indiferente à diversidade existente entre os vários meios e que responde à interrogação: que efeito tem os Mass Media numa sociedade de massa?

A principal componente da teoria hipodérmica é, de fato, a presença explícita de uma «teoria» da sociedade de massa, enquanto, no aspecto «comunicativo», opera complementarmente uma teoria psicológica da ação.

Além disso, pode descrever-se o modelo hipodérmico como sendo uma teoria da propaganda e sobre a propaganda; com efeito, no que diz respeito ao universo dos meios de comunicação.  

A sociedade de massa

A presença do conceito de sociedade de massa é fundamental para a compreensão da teoria hipodérmica que, por vezes, se reduz a uma ilustração de algumas das características dessa sociedade.

Como foi afirmado, o conceito de sociedade de massa não só tem origens remotas na história do pensamento político como presença componente e corrente bastante diversa; trata-se, em suma, de um «termo guarda-chuva» de que, a cada passo, seria necessário precisar a utilização e a acepção.

Dado não se poder reconstituir pormenorizadamente a sua gênese e a sua evolução, é suficiente que se especifiquem algumas das suas características principais, sobretudo as mais importantes para a definição da teoria hipodérmica.

São muitas as “variantes” detectáveis no conceito de sociedade de massa.

Para o pensamento político oitocentista de aspecto conservador, a sociedade de massa é, sobretudo a consequência da industrialização progressiva, da revolução dos transportes e do comércio, da difusão de valores abstratos de igualdade e de liberdade.

Estes processos sociais provocam a perda da exclusividade por parte das elites que se veem expostas às massas.

O enfraquecimento dos laços tradicionais (de família, comunidade, associações de ofícios, religião, etc.) contribui, por seu lado, para afrouxar o tecido conectivo da sociedade e para preparar as condições que conduzem ao isolamento e à alienação das massas.

Uma corrente diversa é representada pela reflexão sobre a «qualidade» do homem-massa resultante da desintegração da elite. Ortega y Gasset (1930) descreve o homem-massa como sendo a antítese da figura do humanista culto.

Embora a ascensão das massas indique que a vida média se processa a um nível superior aos precedentes, as massas revelam, todavia, “um estado de espírito absurdo: preocupam se apenas com o seu bem-estar e, ao mesmo tempo, não se sentem solidárias com as causas desse bem estar” (ORTEGA Y GASSET, 1930, p.51), demonstrando uma ingratidão total para com aquilo que lhes facilita a existência.

Uma linha diferente de análise diz respeito à dinâmica que se instaura entre o indivíduo e a massa e o nível de homogeneidade em redor do qual se congrega a própria massa. Simmel afirma que “a massa é uma formação nova que não se baseia na personalidade os seus membros, mas apenas naquelas partes que põem um membro em comum com os outros todos e que equivalem às formas mais primitivas e ínfimas da evolução orgânica (...)”.

Daí que sejam banidos deste nível todos os comportamentos que pressupõem a afinidade e a reciprocidade de muitas opiniões diferentes.

As ações da massa apontam diretamente para o objetivo e procuram atingi-lo pelo caminho mais curto, o que faz com que exista sempre uma única ideia dominante: a  mais simples possível.

Para além das oposições filosóficas, ideológicas e políticas existentes na análise da sociedade de massa - interpretada quer como a época da dissolução da elite e das formas sociais comunitárias, quer como o início de uma ordem social mais participada e partilhada, quer, finalmente, como uma estrutura social gerada pela evolução da sociedade capitalista - há certos traços comuns que caracterizam a estrutura da massa e o seu comportamento.

A massa é constituída por um conjunto homogêneo de indivíduos que, enquanto seus membros, são essencialmente igual, indiferenciáveis, mesmo que provenham de ambientes diferentes, heterogêneos, e de todos os grupos sociais.

Além disso, a massa é composta por pessoas que não se conhecem, que estão separadas umas das outras no espaço e que têm poucas ou nenhumas possibilidades de exercer uma ação ou uma influência recíproca.

Por fim, a massa não possui tradições, regras de comportamento ou estrutura organizativa (BLUMER, 1936 e 1946).

Esta definição de massa como um novo tipo de organização social é muito importante por vários motivos: em primeiro lugar, porque põe em destaque e reforça o elemento fundamental da teoria hipodérmica, ou seja, o fato de os indivíduos estarem isolados, serem anônimos, estarem separados, atomizados.

Portanto, o isolamento físico e «normativo» do indivíduo na massa é o fator que explica em grande parte o realce que a teoria hipodérmica atribui às capacidades manipuladoras dos primeiros meios de comunicação.

Os exemplos históricos dos fenômenos de propaganda de massas durante o fascismo e nos períodos de guerra forneceram provas a tais modelos cognitivos.

Um segundo motivo importante nesta caracterização da massa é a sua continuidade como parte importante da tradição europeia do pensamento filosófico político: a massa é um agregado que nasce e vive para além dos laços comunitários e contra esses mesmos laços, que resulta da desintegração das culturas locais e no qual as funções comunicativas são necessariamente impessoais e anônimas. A fragilidade de uma audiência indefesa e passiva provém precisamente dessa dissolução e dessa fragmentação.

Logo, segundo a teoria hipodérmica, “cada indivíduo é um átomo isolado que reage isoladamente às ordens e às sugestões dos meios de comunicação de massa monopolizados” (WRIGHT MILLS, 1963, p. 203).

Se as mensagens da propaganda conseguem alcançar os indivíduos que constituem a massa, a persuasão é facilmente “inoculada”. Isto é, se o “alvo” é atingido, a propaganda obtém o êxito que antecipadamente se estabeleceu (e de fato, a teoria hipodérmica é também denominada Bullet Theory) (SCHRAMM, 1971).

Nota: O Modelo da Teoria Hipodérmica- Bullet Theory  A Teoria Bala possui uma estrutura bem simples, 
representada pela formula estímulo resposta:   E  >>>  R.

Onde E significa estímulo e R resposta. 
A forma de dualidade mostra que o E é um elemento crucial que compreende todo o indivíduo, 
de onde se espera que uma resposta seja produzida inevitavelmente. Ou seja, o indivíduo pode ser controlado, manipulado e induzido a agir

Fonte: Wolf, Mauro. Teorie delle Comunicazioni di Massa. Trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Editorial Presença, Lda. 5. Ed. , Lisboa, Setembro, 1999.