quarta-feira, 4 de maio de 2022

Criatividade, o que você acha sobre isso?

 

Criatividade, o que você acha sobre isso?

Autor: Eng. Marco Antonio Garcia Jorge

O tema criatividade merece grande atenção por parte de acadêmicos, profissionais, estudantes, enfim, por toda a sociedade. A criatividade é intrinsicamente humana, dependente da cognição e se desenvolve em contextos variados, que dificultam os pesquisadores determinarem regras específicas sobre seu processo de formação e expansão. A cognição é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo de valor, imaginação, pensamento e linguagem, cuja origem refere-se normalmente a Platão e Aristóteles.

  

Outra questão que dificulta o entendimento de pesquisadores é que a criatividade é infinita. Enquanto houver pessoas, haverá espaço para criatividade. Enquanto houver sociabilização, haverá espaços criativos. A criatividade tem um significado tão vasto e aplica-se a tantas áreas que uma forma específica de perceber esse constructo se torna redutora do seu valor. Outros termos que se relacionam com a criatividade são: imaginação, motivação, coragem, valor, saber, originalidade, inovar, talento, criar algo novo, etc.

 Para os acadêmicos, todo ser humano possui criatividade, em diferentes níveis de habilidades. Para uns, é possível desenvolver o que chamam de potencial criativo, outros criaram uma taxonomia para classificar criatividade segundo o lugar de origem e a forma como se manifesta. Porém, nem sempre foi assim: na antiguidade, a criatividade era vista como dom divino, um "estado místico de receptividade de alguma mensagem de entidades divinas."

 

  Esse texto inicia com as definições para o constructo criatividade, apresenta as classificações mais comuns sobre o tema e exemplifica alguns campos de ação. A seguir, aborda a física da criatividade, uma alusão aos conceitos de força e potencial dos ensinamentos de física e complementa com o processo criativo. Ao final, tece as conclusões do autor.


 

Criatividade: definições

 

Algumas definições dos autores para o constructo criatividade, desenvolvidos nas últimas seis décadas:

 "Criatividade é o processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução na organização da vida subjetiva", Ghiselin (1952)

  

"criatividade representa a emergência de algo único e original" (Anderson, 1965);

 "criatividade é o processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados" (Torrance, 1965);

 "criatividade é o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo" (Stein, 1974);

 Segundo Flieger , "manipulamos símbolos ou objetos externos para produzir um evento incomum para nós ou para nosso meio". (Flieger, 1978);

"um produto ou resposta serão julgados como criativos na extensão em que a) são novos e apropriados, úteis ou de valor para uma tarefa e b) a tarefa é heurística e não algorística" (Amabile, 1983).

 A figura abaixo ilustra uma situação metafórica, onde a criatividade do homem se faz presente duas vezes: a primeira, pela invenção da lâmpada, pelo proeminente inventor Thomas Edison, que registrou 2.332 patentes; a segunda, pela própria invenção que simulando a criatividade da mente humana, está prestes a acender a si própria.

 

Criatividade: conteúdo e formas:

 A criatividade teve diferentes significados e conotações ao longo do tempo. Já foi considerada dom divino na idade média, mas também associada a loucura, onde as manifestações criativas eram tidas como um atos impensados, que serviriam de compensação aos desajustes e conflitos inconscientes da pessoa.

 

Pode-se classificá-la segundo o lugar de origem e a forma como se manifesta. Um exemplo de classificação por lugar de origem é a seguinte:

 

Criatividade individual: é a forma criativa expressa por um indivíduo;

 

Criatividade coletiva ou de grupo (equipe): forma criativa expressa por uma organização, equipe ou grupo. Surge geralmente da interação de um grupo com o seu exterior ou de interações dentro do próprio grupo e tem como objetivo principal otimizar ou criar produtos, serviços e processos.

 

Nas organizações modernas a "criatividade em equipe" é o caminho mais curto e mais rápido para modernização e atualização de seus diversos métodos de gestão e de produção. Quando transformada em produtos e serviços, isto é, quando a criatividade é posta em prática, podemos gerar as inovações. Larry Hirst (IBM) afirmou que a "Invenção é a transformação de dinheiro em ideias, inovação é a transformação de ideias em dinheiro". Inovação tem pois este carácter de concretização, que só assim poderá gerar criação de valor, comum às organizações com foco nos clientes. Para ele, o conceito de criatividade é aplicável no contexto pessoal, fora do contexto empresarial, onde o foco é a inovação.

 

A "Física" da Criatividade:

 

Pode-se definir forças de ação e reação para a criatividade, como uma metáfora que referencia a terceira lei de Newton:

 Forças de ação a favor da criatividade – motivação, espírito empreendedor, coragem, talento e vontade de criar algo novo são forças que atuam em prol da criatividade. Iniciativas que incentivam e elogiam as ações, que valorizam as iniciativas, também atuam como forças capacitadoras, isto é, forças de ação;

 Forças de reação contra a criatividade – barreiras emocionais, impedem as pessoas de usarem plenamente sua imaginação, especialmente, o medo de errar e parecer ridículo. Outra barreira natural é a necessidade de dedicação, de tornar-se expert, pois através da domínio da técnica é que as pessoas podem superar o domínio da arte e criar. O medo do novo, a manutenção de paradigmas e status quo são outras forças de reação.

 Para os autores Duailibi e Simonsen Jr., criatividade e inovação são indissociáveis, mas não sinônimos: a primeira, é a faísca; a segunda, a mistura gasosa que perdura e se realiza no tempo. A primeira, a descoberta e inspiração; a segunda, o trabalho e a transpiração.

 

 O potencial criativo pode ser visto como um conjunto de pessoas e contexto de grupo favoráveis a geração de ideias incentivados e motivados para solução de problemas:

 aprimorar conhecimentos e habilidades que permitam expandir o dom natural da pessoa ou do grupo;

 a criatividade pode ser vista como um processo em formação que depende de um contexto de grupo para se transformar em inovação.

 

O processo criativo:

 

Os autores definem fases para o desenvolvimento do processo criativo, a saber:

 Percepção do problema. É o primeiro passo no processo criativo e envolve o "sentir" do problema ou desafio. Normalmente, começa no indivíduo;

 Teorização do problema. Depois da observação do problema, o próximo passo é convertê-lo em um modelo mental (Senge, 1990) ou teórico;

 Considerar a solução. Este passo caracteriza-se geralmente pela súbita criação da solução; é o impacto do tipo "achei!". Muitos destes momentos surgem após o estudo exaustivo do problema;

 Produzir a solução. A última fase é converter a ideia mental em ideia prática, um modelo, por exemplo. É considerada a parte mais difícil, de pouca inspiração, mas muito trabalho, muita inspiração;

 Produzir a solução em equipe. Fase comum que ocorre nas empresas e organizações quando precisam, tanto diagnosticar ou superar um problema quanto otimizar ou inovar produtos, serviços e processos. Ancoram-se, para tal dinâmica, na conhecida técnica de tempestade de ideias (brainstorm).

 

 Conclusões:

 A importância da criatividade está no seu poder de ação, de uma pessoa para grupos e vice-versa. Os benefícios para a coletividade são incalculáveis: invenções, inovações, melhoria de vida e uma série de outras soluções que evoluíram ao longo dos tempos. Organizações inovadoras criam departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento como forma de disponibilizar recursos para espaços onde o contexto seja aberto a criação. O próprio entendimento do homem em relação ao conceito, ao que é criatividade, evoluiu de uma ideia maluca para a solução do mundo nos tempos modernos. Ainda bem que seja assim!

 

Referências:

MASI, Domênico de. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

SENGE, Peter. A quinta disciplina. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

WIKIPEDIA, pt.wikipedia.org/wiki/Criatividade, acesso em 08-03-2012.