O
Fim das Rádios AM e o recomeço de uma nova era na radiodifusão brasileira
O
decreto de migração das emissoras AM para a faixa de FM é o fato mais
importante dos últimos 50 anos para o rádio no Brasil.
A
mudança dará ao rádio em amplitude modulada as condições de competir com as
novas mídias, permitindo que o veículo continue prestando um serviço
fundamental ao Brasil como levar
informação, cultura e entretenimento de forma livre e gratuita a milhões de pessoas
com a mesma qualidade de som das emissoras em frequencia modulada (FM).
Pouca
gente se lembra, mas quem trabalhou em grupos ou sistemas de emissoras de
rádio, sabem da competição interna, que ocorria entre os profissionais de AM e
FM nos idos anos 1980 pela preferência dos ouvintes, clientes e diretores das
emissoras com mais de uma emissora.
Eu,
por exemplo, fui testemunha das discussões e ciúmes causados, quando uma
emissora dava maior atenção estratégica nas ações entre emissoras de diferentes
frequencia em um mesmo grupo de comunicação.
Havia
nos anos 1980, o frisson pelos grandes comunicadores de rádio AM e os disck-
jockeys da locução nas FMs, quando elas pararam de tocar música
instrumental e partiram para o hit-parade (a famosa parada de sucessos musicais amaericana).
Eu
era bem jovem, com 20 anos, quando relato o que vi no parágrafo anterior e vivi
nos anos seguintes.
Em
1983, no Sistema Globo de Rádio, Paulo Giovanni (hoje, publicitário) e o
memorável Haroldo de Andrade eram os dois locutores mais lembrados em pesquisa
de Recall (taxa de lembrança do IBOPE) na cidade do Rio de Janeiro, os líderes de
audiência na Rádio Globo AM, seguidos por Robson Castro (o criador do modelo de
rádio que toca músicas do passado – Flashbacks) o primeiro personality da Rádio 98
FM.
Naquele
momento da pesquisa, a presença de um locutor de FM (que fazia um programa das
22 h às 2 h da madrugada), surpreendeu, inclusive, o saudoso diretor Paulo
César Ferreira em um jantar (leia a missiva a baixo) que convocou (em 22 de março de 1984) os
profissionais de FM ao restaurante Castelo da Lagoa, para
comemorar o “surgimento” e crescimento da 98 e Globo FM, no competitivo
mercado fluminense com a presença do nosso saudoso e tutor Mário Luiz.
Ainda, me lembro que o Dr. Paulo César Ferreira não entendia como um locutor de uma rádio
FM, em horário noturno conseguia ter uma enorme taxa de lembrança- Recall ( pela resposta espontânea dos
ouvintes de rádio aos entrevistadores do IBOPE).
Doutor Paulo César durante o jantar, de forma descontraída dizia que continuássemos com aquela proposta de programação e queria conhecer o autor da proeza (o Robson Castro) dizendo que não gostava do tipo de programa, particularmente de um dos quadro do programa, mas era para continuar... O que o PC mais queria , no íntimo que que a 98 FM ou Globo FM superassem a audiência da Rádio Cidade (um dos fenômenos do FM carioca, no início dos anos 1980 pertencente ao Grupo Jornal do Brasil).
Veja como o PC começou a missiva, ou seja, a carta-convite...
Doutor Paulo César durante o jantar, de forma descontraída dizia que continuássemos com aquela proposta de programação e queria conhecer o autor da proeza (o Robson Castro) dizendo que não gostava do tipo de programa, particularmente de um dos quadro do programa, mas era para continuar... O que o PC mais queria , no íntimo que que a 98 FM ou Globo FM superassem a audiência da Rádio Cidade (um dos fenômenos do FM carioca, no início dos anos 1980 pertencente ao Grupo Jornal do Brasil).
Veja como o PC começou a missiva, ou seja, a carta-convite...
Eu
na época sabia da razão do sucesso (um deles já citei no fim do parágrafo
acima), mas com meus 21 anos de idade não me atrevia a falar em meio há tanta
gente mais experiente do que eu...
Com
o passar dos anos, hoje tenho 53 anos bem vividos, tenho a certeza, de que não
há diferença, nenhuma, entre ouvinte de AM ou FM.
A
proposta do rádio ouvido até os anos 1980 era o de ser um companheiro do ouvinte,
independente do horário que a pessoa sintonizava um tipo de frequencia.
No
caso da FM, já havia indícios do processo de segmentação, já que o programa Good
Times, apresentado com maestria por Robson Castro (hoje, na Rádio Paradiso FM - Rio, com o congênere Yesterday) foi o responsável pelo primeiro nicho de mercado radiofônico todas as noites com relato de histórias, traduções
de músicas, e afins para um público seleto.
No caso da AM, sempre, os comunicadores tiveram o prestigio e credibilidade por tratar das demandas dos ouvintes e da Sociedade, de forma pontual. Eles com capacidade de se comunicar de forma simples e objetiva com seus ouvintes deram início ao segmento de programação Talk Show.
No caso da AM, sempre, os comunicadores tiveram o prestigio e credibilidade por tratar das demandas dos ouvintes e da Sociedade, de forma pontual. Eles com capacidade de se comunicar de forma simples e objetiva com seus ouvintes deram início ao segmento de programação Talk Show.
Todavia, desde de então, havia uma separação entre a rádio que tocava para falar e a rádio que falava para tocar, marcando um divisor entre as frequências.
Lembro-me que em 1986, fui coordenar a primeira rádio do nordeste do Sistema Globo de
Rádio, que se chamou. Salvador FM. Lá a estratégia de programação era tocar mais músicas (do
tipo Só Sucesso) e por sorte, encontramos o maior publicitário do Brasil, Nizan Guanaes
(hoje vencedor do prêmio de melhor agência de propaganda do Mundo 2013 pela
África), que já demonstrava uma afeição pelo meio Rádio (Nizan fez o lançamento da
Rádio Salvador FM com um outdoor sonoro: com uma bela mulher chamando à atenção
para o painel... da Salvador - Você liga e é só sucesso; o outdoor tocava música...).
Depois,
em 1990, Nizan foi convidado para elaborar a campanha publicitária de lançamento
da Rádio CBN e criou o famoso slogan: Rádio que toca notícia.
Vale, também, lembrar outro fato da mesma época: as transmissões em AM Estéreo. Ora uma tentativa de colocar
as emissoras AM com condições de tocar músicas com qualidade, e diminuir a
evasão de ouvintes, o que não teve sucesso. Mas,
por que não deu certo o AM estéreo?
Simples.
Os empresários se esqueceram de fabricar os aparelhos para serem vendidos no
comércio varejista, como tinha feito Roquete Pinto em 1940. Um erro crasso, e esquecido...
Mas,
o tempo foi passando... O meio rádio foi se ajustando aos erros e acertos e hoje creio que há um promissor cenário para a moçada que está chegando ao mercado.
Com
a proposta em 7 de novembro de 2013, em decreto assinado pela Dilma Rousseff cerca
de 1,7 mil emissoras de amplitude modulada explorarão a FM Estendida- FMe, e isto vai mexer com o nosso negócio.
Notoriamente, em futuro bem próximo, não haverá mais distinção entre AM e FM no seu, no meu Smartphone (o telefone inteligente, traduzindo do inglês para o português...). As pessoas irão ouvir rádio com qualidade e recursos antes nem imaginados (textos, imagens, redes sociais, etc).
Os
estudos já começaram para colocar todas as rádios com as mesmas condições de igualdade (em Maio de 2010, a Agência Nacional de Telecomunicações publicou um estudo sobre a
viabilidade técnica da migração do rádio AM para a faixa de FM, usando os
canais 5 e 6 de televisão em Santa Catarina, como balão de ensaio).
Posso
me atrever, agora, depois do jantar com os meus pares em 1984, a dizer que: não vou mais ouvir
rádio pela frequencia, tão somente, e que não é o fim do Rádio AM.
Em suma: rádio
é Rádio, simples como Love is Love da música do John Lennon.
Sérgio Luiz Duarte
Radialista, publicitário e professor universitário