Paredes
estão caindo
Por
Nizan Guanaes
Mark Zuckerberg é um visionário ambicioso. Quando o
Facebook fez dez anos, algumas semanas atrás, ele escreveu carta aberta aos
mais de 1 bilhão de usuários de sua rede social na qual deixa claro o caminho.
"Hoje, apenas um terço da população mundial tem acesso
à internet.
Na próxima década, teremos a oportunidade e a responsabilidade de
conectar os outros dois terços", escreveu.
Zuckerberg pensa grande, a sua régua é de bilhão.
Poucos dias depois de comemorar a primeira década da
companhia que fundou no campus de Harvard, comprou, por cerca de U$ 19 bilhões,
o aplicativo Whats'App.
Muita gente ficou chocada com o preço pago por uma empresa
que praticamente não gera receita, como o Facebook em seus primórdios.
Mas, rebateram executivos do Facebook, gera a fantástica
cifra de 1 milhão de novos usuários/consumidores por dia. Sim, por dia. Já são
mais de 450 milhões usando o serviço de mensagem instantânea para aparelhos
móveis.
Voltando à carta de Zuckerberg, cuja mensagem central é
"temos ainda bilhões e bilhões de pessoas a conectar", pode-se
concluir que a sua aposta é na conexão móvel, ou, em inglês universal,
"mobile".
Muita gente pensa assim.
O Mobile World Congress, maior feira do setor, em
Barcelona, teve 72 mil participantes no mês passado, e os seus organizadores
não foram nada modestos ao promovê-la: "Os participantes terão a
oportunidade de experimentar em primeira mão como o 'mobile' está
revolucionando os negócios em vários setores e transformando o dia a dia de
bilhões de pessoas ao redor do mundo".
Na minha área, a publicidade, as transformações já são
brutais.
O digital não é mais uma ferramenta, mas a base da criação.
As telinhas pela qual nos comunicamos não param de encolher, de aumentar, de
ganhar mobilidade, conectividade, utilidade.
É uma revolução dentro da revolução, o diruptivo depois da
disrupção. É natural que haja confusão.
Com a palavra, o Google. "As pessoas não estão
diferenciando o que estão fazendo em telas diferentes, por isso os
publicitários deveriam ser mais agnósticos sobre onde atingir o usuário. O
fundamental é não falar de 'mobile', 'mobile', 'mobile'.
Estamos falando de
viver com os usuários. Em que aparelho você está? Qual é sua questão? Como
podemos ajudá-lo?
É um conjunto de atividades muito mais amplo e rico para
nós", disse Nikesh Arora, CBO (chief business officer) do Google, em
conferência com analistas do mercado.
Claro, nem tudo o que é bom para o Google é bom para você,
mas é bom prestar atenção na visão holística de Arora.
As diferenças do que vemos nas diferentes telas que nos
cercam estão sumindo. O conteúdo se imporá aos aparelhos. A mensagem, ao meio.
Não é o "mobile", mas a mobilidade. Estar no lugar certo, na hora
certa, com a informação e a mensagem que o usuário/consumidor valoriza e
aplica.
A cadeia americana de restaurantes Chipotle's, por exemplo,
permite fazer pedidos por um app quando se está nas redondezas, apressando o
atendimento para quem está com pressa.
Em cidades grandes com viagens longas e transportes lentos,
os aplicativos podem resolver e adiantar muitas tarefas do dia a dia,
bancárias, de abastecimento doméstico, de entretenimento, turismo etc.
A mobilidade definitivamente reduz o custo da oportunidade.
Redes de supermercado e outros varejistas nos EUA já enviam
aos consumidores em suas lojas ou em ruas perto delas alertas de promoções de
produtos que costumam consumir ou outras informações interessantes.
As paredes estão caindo. Quem passa na rua pode
"ver" as promoções dentro da loja sem precisar entrar.
O mundo antes chamado virtual transbordou da tela e é parte
essencial do mundo chamado real.
Essa sombra permanente de conexões, informações e aplicações
cotidianas pode nos aprisionar e pode nos liberar. Pode ser cerca ou ponte.
Acredito mais na ponte.
Os celulares são ferramentas transformadoras da vida nas
regiões mais pobres do mundo. E nas mais ricas também.
Na era da mobilidade, só não vale ficar parado.