terça-feira, 18 de março de 2014

A notícia como salvação do jornalismo na era digital

A notícia como salvação do jornalismo na era digital 

Por Carlos Castilho 

A constatação parece óbvia, porque o discurso dos executivos da imprensa convencional
sempre colocou a notícia como o centro da atividade jornalística. Mas o avanço da tecnologia e
do conhecimento humano acabaram mostrando que a notícia é muito mais do que um produto
capaz de ser trocado por publicidade.

Não há mais novidade alguma no fato de que a notícia perdeu valor de troca porque se tornou de
tal forma abundante que o seu preço caiu a quase a zero.

Os dogmas do capitalismo garantem que quando um produto perde valor ele deixa de ser atrativo como motor de uma atividade econômica. Se isso fosse totalmente verdade, as empresas jornalísticas já teriam desaparecido e o jornalismo seria uma atividade desprovida de sentido.

A revolução tecnológica materializada na digitalização e na telemática, se por um lado acabou
com o conceito de notícia como produto comercial atrativo, por outro deu a ela um novo
significado capaz de justificar não apenas a sobrevivência do jornalismo como também servir de
base para um novo conceito de organização midiática.

O novo contexto da notícia a situa como fator deflagrador de processos de geração de
conhecimento e consequentemente também de inovações, fatores vitais para o desenvolvimento
da produção de bens e serviços na economia de base digital. A notícia é um dado (número, fato
ou evento) cuja principal característica é o seu ineditismo.

O fato de ser desconhecida pelo indivíduo receptor de uma notícia mexe com as certezas
existentes, gerando dúvidas que levam à identificação de sua relevância, pertinência e
confiabilidade, por exemplo. Esses fatores já existiam antes da internet, mas eram associados
sempre à preocupação com a valorização da notícia na troca por publicidade, fonte de recursos
que viabilizava o modelo industrial de negócios da imprensa.

A extinção da preocupação com o dinheiro criou as condições necessárias para que a produção
de conhecimento passasse a ser a principal característica da notícia na era digital. Mudança é
significativa porque altera a forma como consumimos o conteúdo de jornais, revistas, rádio,
televisão e páginas informativas na internet.

Até agora a notícia servia para conferir status social (pessoas bem informadas como referência),
poder político e militar (pela capacidade de saber o que os outros não sabem e poder manipulá-
los), voyeurismo social (curiosidade popular por escândalos e crimes) e secundariamente
produção de conhecimento socialmente relevante.

No sistema comercial, a notícia era consumida e apenas marginalmente reutilizada na produção
de novas notícias, porque a cultura vigente era a de que um produto valorizado deveria ser
guardado como investimento visando troca futura. Na era digital o fluxo da notícia confere igual
importância tanto à transmissão do emissor para o receptor como o caminho inverso. O
importante não é mais guardar a informação, mas compartilhá-la – porque isso lhe agrega valor.

O raciocínio é simples. Se tenho uma maçã, eu só posso guardá-la com o risco dela apodrecer,
saboreá-la , vendê-la ou trocá-la por outra fruta ou produto. Em qualquer hipótese eu deixo de
possui-la. Agora, se eu tenho uma notícia eu posso guardá-la ou compartilhá-la. Na primeira
hipótese ela se torna inútil quando perder a novidade, mas se eu a trocar com outras pessoas eu a
conservo e, além disso, incorporo novas notícias ao meu acervo informativo. Quanto mais eu
compartilhar uma notícia, mais informado vou ficar.

Isso significa que o fluxo de notícias passa a ser o elemento preponderante num projeto
jornalístico ambientado na internet. É aí que surge o tal de jornalismo viral, cuja intenção é fazer
com que a notícia circule em vez de ficar preocupado com os resultados que ela vai gerar. O
fluxo de uma notícia depende da forma como um profissional ou praticante do jornalismo
organiza os seus elementos de forma que ela seja entendida rápida e facilmente pelo público.

A rapidez na disseminação ou viralização de uma notícia é o grande diferencial no jornalismo
em ambiente internet, porque está diretamente associado à produção de conhecimento. Este
diferencial passa a ser a justificativa do jornalismo

Fonte: Observatório da Imprensa